Lula e Trump retomam diálogo e negociam fim do tarifaço contra produtos brasileiros
Encontro remoto marca reaproximação; equipes de ambos os governos buscarão solução para tarifas e restrições a autoridades do Brasil

Luciano Meira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversaram por videoconferência nesta segunda-feira (6), em uma tentativa de destravar as relações econômicas e diplomáticas entre Brasil e EUA, atualmente afetadas por um tarifaço de até 50% imposto aos produtos brasileiros desde 2024. No diálogo, Lula pediu o fim das sobretaxas e das sanções unilaterais aplicadas a autoridades nacionais, entre elas a suspensão de vistos e sanções financeiras determinadas pela administração Trump.
A conversa, de cerca de 30 minutos, foi avaliada como positiva. Lula enfatizou que o Brasil é um dos poucos países do G20 com quem os EUA mantêm superávit comercial e defendeu o restabelecimento das “relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”. Trump, por sua vez, destacou o potencial do comércio bilateral e demonstrou disposição para avançar nas negociações, designando o secretário de Estado Marco Rubio para liderar a interlocução, ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin, do chanceler Mauro Vieira e do ministro da Fazenda Fernando Haddad.
Contexto do tarifaço e impacto para o Brasil
As sobretaxas foram impostas por Trump durante a disputa comercial global, elevando tarifas de exportação para produtos como café, carnes, frutas e açúcar, o que reduziu drasticamente as vendas brasileiras aos Estados Unidos — como no caso do açúcar, com queda superior a 80% nas exportações. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), se as tarifas forem removidas, exportações brasileiras podem crescer até US$ 7,8 bilhões, beneficiando 1.908 produtos.
Além das tarifas, autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes, foram alvo de restrições de visto e sanções com base em legislação aprovada pelo Congresso americano. A medida causou desconforto diplomático e foi um dos principais pontos discutidos por Lula.
O que ficou acertado e próximos passos
Ao final da videoconferência, Trump e Lula trocaram telefones para comunicação direta e anunciaram a retomada do canal diplomático. Ficou ajustado um encontro presencial “em breve”, com cenário mais provável durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia, no final de outubro, ou na COP30, em Belém, conforme convite reiterado por Lula.
A continuidade das negociações será feita entre as equipes dos dois países, focando na retirada das sobretaxas e na revisão das restrições aplicadas a autoridades brasileiras. O avanço das conversas é visto com otimismo pela classe empresarial e pelo governo brasileiro, que avaliam a reaproximação como estratégica para a competitividade internacional do país.
A sinalização de diálogo representa avanço importante após meses de tensão, mas exportadores ressaltam que ainda não há uma solução concreta, e o desfecho dependerá do resultado das próximas rodadas de negociação entre os governos.