O tarifaço dos Estados Unidos é de Bolsonaro também, não só de Trump

Arte RMC – IA
Luciano Meira

O recente tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros entrou rapidamente para a galeria das crises nacionais, atingindo agricultores, empresários e milhões de trabalhadores brasileiros. Embora tenha recebido o selo da administração Trump, a dura realidade é que seu principal arquiteto — e único beneficiado — atende pelo nome de Jair Bolsonaro. A chantagem tarifária é, fundamentalmente, uma peça de pressão internacional orquestrada para tentar postergar ou evitar o que já se anuncia no horizonte da Justiça: a condenação definitiva do ex-presidente por suas práticas antidemocráticas.

Para além das bravatas e acusações vazias, o que se enxerga é uma estratégia que transforma o bem-estar de toda uma nação em moeda de troca por um projeto pessoal de impunidade. Trump pode ter assinado, mas as digitais da crise são, inegavelmente, de Bolsonaro e de seus aliados, que atuaram nos bastidores incentivando sanções e facilitando a associação do interesse brasileiro à pauta judicial do ex-presidente no STF.

Se os papéis oficiais dos EUA justificam a taxação como resposta a “ameaças à segurança nacional” e suposta perseguição política ao ex-presidente brasileiro, nenhum documento esconde a articulação coordenada pela família Bolsonaro e seus apoiadores exilados, incluindo o filho Eduardo, que admitiu trabalhar junto à administração norte-americana para punir o Judiciário e o governo do Brasil. As declarações de Trump fazem menção nominal a Bolsonaro, alegando processos forjados e abuso de poder, numa exposição internacional dos impasses judiciais que ainda aguardam decisão no STF.

A pesquisa PoderData mostra o diagnóstico popular: 46% dos brasileiros responsabilizam Bolsonaro e seus familiares pelo tarifaço, contra apenas 32% que indicam Lula. Na opinião pública e nos bastidores diplomáticos, é evidente quem manobra na tentativa de utilizar interesses estrangeiros para pressionar o sistema de Justiça, justamente quando o STF já tornou o ex-presidente réu e a PGR pede sua condenação por tentativa de golpe de Estado.

O tarifaço surge na esteira dos avanços das investigações do Supremo Tribunal Federal e da provável condenação de Bolsonaro, já considerado inelegível até 2030 em decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Agora, ele responde no Supremo por crimes que incluem liderar uma organização criminosa para tumultuar a transição presidencial e tramar ataques às instituições democráticas.

Bolsonaro e aliados buscam, fora do Brasil, apoio político para transformar sua situação criminal em narrativa de perseguição internacional. A tarifa dos EUA serve à estratégia: apostar no sofrimento do povo para forçar um recuo do Judiciário brasileiro, na esperança de conseguir uma anistia negociada ou, ao menos, delongar sua condenação.

O resultado desse artifício é puro prejuízo nacional. Setores inteiros da economia — especialmente os mais ligados à “base bolsonarista” — pagarão caro, de empregos ameaçados à desvalorização de produtos. Diferentemente do discurso oficial, a medida não corrige injustiça nem defende interesses nacionais: é apenas uma tentativa de salvar o próprio pescoço à custa de toda uma população.

Ao fim e ao cabo, o tarifaço não é de Trump. É, sim, de Bolsonaro: fruto de sua incapacidade de conviver com a Justiça, de sua disposição para manipular a opinião internacional e, sobretudo, de sua postura de transformar cada brasileiro em refém de um projeto pessoal de salvação.

Basta de chantagem. O país merece, enfim, ser passado a limpo.

Luciano Meira

Editor do portal O Metropolitano
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