Quando a cidade voltou a viver o rodeio
Reflexões pessoais sobre o Rapadura Rodeio Show em Itaguara

Camilo Lélis
O Rapadura Rodeio Show voltou a movimentar Itaguara e, nos dias em que estive presente, pude sentir de perto o impacto da festa no Parque de Exposições Francisco de Morais Resende, espaço que ficou pequeno diante da multidão. Realizado pela Prefeitura Municipal em parceria com o Sindicato dos Produtores Rurais, Guto Eventos e uma rede de patrocinadores, o evento trouxe de volta um símbolo cultural antigo da cidade, agora revestido de novos ares.
Ao circular pelo parque, percebi que a festa soube unir elementos tradicionais, como a rapadura e os derivados da cana-de-açúcar, com a adrenalina da Copa Bulls de Rodeio, que levantou poeira e empolgou a multidão. Sob narração oficial de Fábio Pereira, os peões mostraram que o rodeio segue sendo vibrante e capaz de emocionar.
Mais do que a estrutura, chama atenção a presença animada da população. Pode-se discutir política, preferências musicais ou a forma de organização, mas uma conclusão é inegável: Itaguara respondeu ao chamado e lotou o espaço. O povo precisava de um momento de celebração e encontrou ali a oportunidade de se reunir e festejar, em uma cidade que não oferece muitas opções culturais ou de lazer.
Diferente de outros anos, a Prefeitura assumiu a realização direta da festa, novidade que precisa ser registrada. Antes, o município apenas apoiava ou patrocinava, mas nunca havia estado à frente da organização. Nesse ponto, a Secretaria de Cultura e Turismo merece reconhecimento, já que conseguiu conduzir uma responsabilidade grande: sustentar um espetáculo tradicional que marcou gerações no calendário cultural local.
Ressalto também o trabalho do Sindicato dos Produtores Rurais, gestor histórico do parque e ator fundamental na trajetória do rodeio em Itaguara. Essa parceria entre poder público, produtores e iniciativa privada foi indispensável para viabilizar o evento deste ano.
A entrada gratuita, custeada com recursos públicos, certamente colaborou para o sucesso de público, mas também abriu espaço para reflexões. A festa, por ter o nome “Rapadura Rodeio Show”, poderia ter destacado mais os próprios produtores locais. Em vez disso, os sanduíches e as cervejas dominaram os espaços, enquanto a rapadura e os derivados da cana ficaram praticamente escondidos.
Quanto aos artistas locais, também senti que a estrutura poderia ter favorecido mais nossas pratas da casa. Shows de cantores como Sonilma Batista e Nelson Alves mereciam projeção nos telões e som mais robusto. São talentos afinados e de qualidade, acompanhados por músicos competentes, e mereciam o mesmo brilho que foi dado às atrações principais.
Pelas minhas impressões, o Rapadura Rodeio Show não é o mesmo rodeio que conheci na infância ou na juventude, mas isso não significa que perdeu sentido. A festa se transformou, acompanha os novos tempos e cumpre hoje um papel social: o de proporcionar encontro, diversão e resgate de parte da memória cultural do município.
Não estive nos camarotes, talvez no próximo ano. Mas entre quinta e sexta-feira, saí do parque com a certeza de que, independentemente da política ou dos interesses envolvidos, o espetáculo foi bonito de ver. Até domingo, outros dias de festa ainda esperam por Itaguara, mas a minha leitura já está feita: o povo voltou a sorrir com o rodeio, e isso já é motivo de comemoração.![]()