UnionPay chega ao Brasil e desafia hegemonia de Visa e Mastercard
Gigante chinesa aposta em parceria social para conquistar o consumidor brasileiro; fintech LEFT será a emissora local

Luciano Meira
A UnionPay, maior operadora global de cartões em número de transações, inicia sua operação no Brasil em 2025 prometendo sacudir o mercado de pagamentos, até então dominado por Visa e Mastercard. Criada em 2002 com apoio do Banco Central da China, a companhia chega ao país em parceria com a fintech LEFT, lançando um modelo inédito de redistribuição de receitas com impacto social.
Quem é a UnionPay
A UnionPay nasceu em Xangai, fruto de uma iniciativa estatal chinesa para estruturar o sistema interno de pagamentos. Hoje, a marca soma mais de 9 bilhões de cartões emitidos globalmente, e seu volume anual de transações, estimado em torno de US$ 19 trilhões, supera os montantes movimentados por Visa e Mastercard — que somaram, respectivamente, US$ 14 e US$ 9 trilhões em 2023. Presente em mais de 180 países, a rede da UnionPay já conta com aceitação em zonas comerciais e turísticas brasileiras, especialmente por meio das adquirentes Rede e Stone, e também mantém parcerias de aceitação com grandes redes internacionais como PLUS e Cirrus.
Apesar desses números, cerca de 99% das transações ainda ocorrem dentro da China, onde a UnionPay detém quase dois terços do mercado asiático — proporção inversa à das concorrentes americanas, que concentram 55% (Visa) e 60% (Mastercard) de seus negócios fora do país de origem. A empresa não tem capital aberto, diferentemente das rivais listadas em Nova York.
Tamanho global e concorrência
| Indicador | UnionPay | Visa | Mastercard |
| País de origem | China | Estados Unidos | Estados Unidos |
| Ano de fundação | 2002 | 1958 | 1966 |
| Controle | Estatal | Privada | Privada |
| Países com aceitação | 180 | Mais de 200 | Mais de 210 |
| Volume transacionado (2023) | US$ 19 tri | US$ 14 tri | US$ 9 tri |
| % fora do país de origem | ~0,5% | ~55% | ~60% |
| Receita líquida (2024) | Não divulgada | US$ 35,9 bi | US$ 28,17 bi |
| Sistema de pagamentos | CIPS | SWIFT | SWIFT |
Dados mostram a força da UnionPay no mercado asiático, enquanto Visa e Mastercard têm operação verdadeiramente global. Além do volume, a UnionPay se destaca pelo controle estatal e pelo foco em margens de lucro reduzidas, enquanto as rivais priorizam a rentabilidade e distribuição de dividendos.
Como será a operação no Brasil
O início da operação prevê a emissão de cartões de crédito com integração ao Pix e rápida expansão para o varejo, aproveitando parcerias já estabelecidas com as adquirentes Stone, Rede e a rede de caixas Saque e Pague. O objetivo da fintech LEFT, representante oficial da bandeira no país, é atingir cobertura em cerca de 70% dos estabelecimentos nacionais já no início da operação.
Um diferencial do modelo é o viés social: parte das taxas cobradas nas transações será destinada a projetos sociais escolhidos pelo próprio usuário, com transparência total dos dados e relatórios públicos. Trata-se de um conceito que especialistas apontam como inédito, em um setor historicamente orientado apenas por lucro.
Como obter um cartão UnionPay no Brasil
Para obter um cartão UnionPay através da LEFT no Brasil, acesse o site https://left.digital/, crie uma conta digital gratuita e forneça os documentos necessários, como RG/CPF e comprovante de residência/renda. Após a aprovação, escolha o tipo de cartão (débito, crédito ou pré-pago), que será enviado fisicamente em até 7 dias ou emitido virtualmente de forma imediata.
Passos para solicitar o cartão:
Acesse o site: Vá ao site oficial da fintech LEFT, https://left.digital/.
Crie uma conta: Abra uma conta digital gratuita na plataforma da Left/UnionPay.
Forneça seus dados: Envie os documentos solicitados, que incluem RG/CPF, comprovante de residência e, para a opção de crédito, comprovante de renda. A aprovação pode levar até 48 horas.
Escolha o tipo de cartão: Selecione entre um cartão de débito, crédito ou pré-pago, conforme sua preferência e necessidade.
Receba seu cartão: O cartão físico será enviado para seu endereço em aproximadamente 5 a 7 dias. Se preferir, a versão virtual estará disponível imediatamente após a aprovação.
Ative o cartão: Baixe o aplicativo da fintech LEFT para gerenciar o cartão, habilitar pagamentos móveis e configurar seus limites.
Impactos e desafios
A chegada da UnionPay representa uma potencial disrupção no mercado local, estimulando a concorrência e oferecendo ganhos tanto para o consumidor quanto para pequenos negócios, que poderão aderir ao novo modelo com taxas competitivas e participação social. O desafio está na adaptação às regras do Banco Central, à proteção de dados e à integração bancária no Brasil, além da necessidade de conquistar espaço em um mercado ainda dominado por gigantes americanas.
Além de ampliar opções, a expansão da UnionPay no Brasil deve trazer impactos sobre o câmbio, turismo e integração internacional — especialmente por sua ampla aceitação na Ásia e em destinos frequentados por brasileiros, como EUA e países europeus.
Para acompanhar novidades, aguardar a oferta de cartões nacionais e tirar dúvidas, recomenda-se visitar o site oficial da fintech LEFT e consultar a UnionPay Brasil em seus canais digitais.
Union Pay e a Lei Magnitsky
A presença da UnionPay no Brasil levanta discussões sobre sua capacidade de operar como alternativa ao sistema SWIFT, especialmente em contextos de sanções internacionais, como as impostas pela chamada Lei Magnitsky. Diferentemente de Visa e Mastercard, cujos sistemas de pagamentos internacionais estão atrelados ao SWIFT — rede bancária global sob influência de Estados Unidos e Europa —, a UnionPay é conectada ao CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), uma infraestrutura criada pela China para processar transferências internacionais em yuan.
O uso do CIPS torna as operações da UnionPay, na sua essência transfronteiriça, menos suscetíveis ao alcance direto das punições derivadas das decisões dos EUA, como o bloqueio previsto pela Lei Magnitsky. Na prática, países e indivíduos sancionados ou banidos do sistema SWIFT — como ocorre com Rússia e Irã — conseguem utilizar a UnionPay e o CIPS para movimentar recursos e fazer pagamentos internacionais, desde que aceitem transações em moeda chinesa. Por essa razão, especialistas apontam que a UnionPay pode ser, sim, uma rota para escapar das restrições das principais bandeiras americanas, cuja operação pode ser suspensa por ordem judicial ou política dos EUA.
Por outro lado, analistas e parte da imprensa destacam que, apesar da alternativa técnica representada pelo CIPS, o uso da UnionPay não equivale a um passe livre universal: como sua aceitação, especialmente fora da Ásia, ainda depende de acordos locais e da integração com bancos regionais, a capacidade de contornar sanções depende muito da rede de aceitação em cada país e das regras internas das instituições financeiras, mas que isto é apenas uma questão de tempo. No caso brasileiro, não há confirmação de que grandes bancos aceitem operar fora do sistema tradicional apenas com as soluções chinesas, mas seguiram com ambas.
Assim, é verdade que a UnionPay, por operar via CIPS e não pelo SWIFT, posiciona-se como uma alternativa capaz de reduzir o alcance geográfico e jurídico das sanções da Lei Magnitsky. Mas a sua efetividade depende, sobretudo, da adesão dos bancos e comerciantes locais ao sistema, das regras cambiais e de quanto governos e reguladores nacionais permitem — ou limitam — a presença de infraestruturas financeiras alternativas à hegemonia ocidental.