Vulcão mineiro pode colocar Poços de Caldas entre potências globais das terras raras

Luciano Meira

Imagine um pedaço do sul de Minas Gerais, formado por uma cratera de vulcão extinto, prestes a virar protagonista das novas tecnologias do século XXI. É esse o cenário de Poços de Caldas, Andradas e Caldas: a região entrou na corrida internacional das terras raras — um grupo de 17 elementos fundamentais para os ímãs de carros elétricos, turbinas de energia eólica, celulares, computadores e armamentos de ponta. Estimativas apontam que só a cratera vulcânica local pode ser responsável por até 20% da demanda global desses minerais nos próximos anos.

O que diz a pesquisa

Investigações geológicas e levantamentos de empresas internacionais revelaram que a área — com cerca de 800km² — pode abrigar até 300 milhões de toneladas de terras raras, cifra capaz de transformar não só a economia regional, mas também botar o Brasil nas manchetes globais como alternativa à hegemonia chinesa. O interesse estrangeiro é intenso e dois projetos, já iniciados por mineradoras australianas, devem iniciar a extração entre 2026 e 2027. Hoje, cerca de um terço dos pedidos de pesquisa no Brasil se concentra em Poços de Caldas, onde só 15% da área estudada já garantiu, segundo especialistas, recursos suficientes para duas décadas de mineração.

Porque Poços de Caldas é diferente

Facilidade de extração: as terras raras estão em argila iônica perto da superfície, dispensando perfurações profundas e explosivos, o que reduz custos e danos ambientais. O teor médio do minério chega a 2.500ppm — bem acima da média global.Tecnologia de baixo impacto: o método de lavra recupera áreas simultaneamente, sem barragens de rejeitos, reutiliza 80% da água e evita grandes passivos ambientais.

Preço competitivo: a projeção é que a extração custe até cinco vezes menos que nas maiores minas do mundo, tornando o produto brasileiro atraente ao mercado internacional, especialmente para os EUA, que buscam alternativas ao monopólio chinês.

Para que servem as terras raras

Fundamentais em turbinas eólicas, baterias, painéis solares, carros elétricos, eletrônicos portáteis, equipamentos médicos, satélites e mísseis.

Disputa global e futuro promissor

A corrida por esses minérios estratégicos acontece sob tensão internacional: China domina cerca de 68% da produção, enquanto EUA, Europa e Brasil procuram diversificar fontes devido a disputas comerciais e tarifárias. Se os projetos se concretizarem, Poços de Caldas pode quebrar definitivamente esse oligopólio e transformar Minas Gerais na “Arábia Saudita” das terras raras ocidentais.

Potencial produtivo

Como é a extração na região

Retirada de argilas ricas em terras raras na profundidade de até 30m;

Lixiviação com solução diluída de sulfato de amônia para separar os elementos;

Circuito fechado separa e precipita os carbonatos usados pela indústria;

Reabilitação ambiental de cada cava aberta com uso do próprio material escavado.

O que está por vir

Com previsão de início de lavras comerciais para 2026/2027, Poços de Caldas pode em breve transformar Minas Gerais em polo estratégico de transição energética e tecnologia de ponta. Mas desafios não faltam: ainda é preciso vencer o atraso regulatório, garantir sistemas de processamento industrial nacional e evitar que a riqueza escape exportada a preço de banana, sem agregar valor ou garantir contrapartidas socioambientais à região.

Se der certo, a cratera desse vulcão pode se tornar o epicentro de uma nova página na mineração mundial.

Glossário rápido

Terras raras: grupo de 17 elementos químicos essenciais para alta tecnologia.

Argila iônica: forma de ocorrência química superficial, fácil de extrair.

Lixiviação: processo químico para separar elementos do minério via lavagem.