“Zema ladrão, a Copasa é do povão”: funcionários da Copasa ocupam ALMG em protesto contra PEC do Cala Boca

Mobilização reúne milhares de trabalhadores em greve que criticam tentativa do governo Zema de retirar o direito de consulta popular antes da privatização da empresa estatal de saneamento

Foto: Ramon Bitencourt
Luciano Meira

Milhares de servidores da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) ocupam, desde as primeiras horas desta quarta-feira (22), o auditório José Alencar e o hall principal da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Belo Horizonte, em um ato contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, conhecida pelos manifestantes como “PEC do Cala Boca”.​A manifestação, que ocorre durante uma audiência pública da Comissão do Trabalho, Previdência e Assistência Social, faz parte da greve de três dias convocada pelos sindicatos Sindágua-MG e Sindieletro-MG. Os trabalhadores protestam contra a proposta do governo de Romeu Zema (Novo), que pretende retirar da Constituição estadual a obrigatoriedade de realização de referendo popular para autorizar a privatização de estatais, incluindo a Copasa.​

Auditório lotado e clima de resistência

Com faixas e cartazes estampando frases como “A Copasa é do povo” e “Água não é mercadoria”, os manifestantes entoaram palavras de ordem e chegaram a virar de costas durante a fala do presidente da companhia, Fernando Passalio, em protesto. Segundo os sindicatos, o ato reúne entre 5 mil e 6 mil trabalhadores vindos de várias regiões do estado.​

O deputado Betão (PT), presidente da Comissão do Trabalho e um dos organizadores da audiência, classificou o movimento como “histórico” e afirmou que a PEC representa um ataque ao direito de participação popular: “Não aceitaremos que o governo venda o patrimônio público calando a voz do povo mineiro”, declarou.​

Entenda a PEC

De autoria do governador Romeu Zema, a proposta busca alterar a Constituição mineira para eliminar a exigência de referendo antes da venda de empresas públicas. A medida é apontada como um passo fundamental do governo para viabilizar a adesão de Minas Gerais ao Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (Propag), que prevê a utilização de ativos públicos, como a Copasa, para reduzir o endividamento estadual.​

O texto da PEC precisa do apoio de 48 dos 77 deputados estaduais, o equivalente a três quintos dos votos, e deve ser votado em dois turnos no plenário da ALMG.​

O que dizem os trabalhadores

Em nota, o Sindágua-MG afirmou que a “PEC do Cala Boca” retira da população o direito de decidir sobre o futuro do saneamento básico e abre caminho para aumentos de tarifas e prejuízos sociais. “O governo quer privatizar a água sem ouvir o povo. Estamos lutando para que o mineiro continue dono da Copasa”, disse o presidente do sindicato, Eduardo Pereira de Oliveira.​

Os manifestantes também lembraram que o “Plebiscito Popular em Defesa das Estatais Mineiras”, realizado em 2023, ouviu mais de 300 mil pessoas e apontou que 95% dos participantes foram contrários à privatização da Copasa, Cemig e outras estatais.​

Governo e oposição em confronto político

A base aliada de Zema tenta acelerar a tramitação da proposta antes do fim do ano legislativo, mas enfrenta uma forte obstrução de oposição, formada por partidos como PT, PSOL, PV, Rede e PCdoB, que prometem recorrer à Justiça se a PEC for colocada em votação sem as seis reuniões regimentais exigidas pelo regimento da Casa.​

Do lado de fora do plenário, a mobilização deve se estender até o final do dia, acompanhada por um forte esquema de segurança. Os sindicatos prometem continuar com atos públicos e paralisações pontuais nas próximas semanas, até que a proposta seja retirada da pauta da ALMG.

Enquanto isso, as galerias e corredores da Assembleia permanecem tomados pelos gritos de protesto: “Zema ladrão, a Copasa é do povão” — o lema que ecoa entre os manifestantes e sintetiza a tensão que domina a Casa nesta quarta-feira.

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