A vitória de Pacheco na Assembleia e o novo xadrez político mineiro

A recente votação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que rejeitou a privatização da Codemig e aprovou sua federalização integral, marca um ponto de inflexão no cenário político estadual. A decisão, que representou uma derrota para o governo Romeu Zema (Novo) e seu vice, Mateus Simões (Novo), expôs de forma cristalina a força política do senador Rodrigo Pacheco (PSD), cuja proposta de federalização sem privatização prevaleceu por unanimidade entre os deputados estaduais.

O episódio revela que, mais do que uma disputa sobre ativos estatais, a Assembleia está imersa em um ambiente já dominado pelas articulações para as eleições de 2026. Tanto Pacheco quanto Simões são eventuais pré-candidatos ao governo do estado, e o resultado da votação evidencia que a maioria dos parlamentares está alinhada com o projeto político do senador, enxergando nele maior viabilidade eleitoral e capacidade de articulação.

A aprovação da federalização da Codemig, vinculada ao pagamento da dívida de Minas com a União, sem abrir espaço para privatizações, não é apenas uma escolha de modelo econômico. É também um recado claro ao Executivo estadual: a Assembleia não aceitará a agenda de desestatização a qualquer custo. A derrota de Simões, que priorizava a privatização caso houvesse proposta da iniciativa privada, mostra que sua base de apoio derreteu diante do pragmatismo dos deputados, que preferiram a segurança da proposta de Pacheco.

Esse movimento deve se repetir nas próximas discussões sobre as PECs que tratam do referendo e do quórum para desestatizações da Cemig e da Copasa. A tendência é de que a Assembleia mantenha postura cautelosa, com forte resistência a qualquer tentativa de acelerar o processo de privatizações, especialmente em ano pré-eleitoral.

No pano de fundo desse embate, observa-se também a fragmentação das forças políticas, tanto à esquerda quanto à direita. Enquanto o PT mineiro enfrenta disputas internas que podem ser judicializadas, a direita se divide entre Simões, que busca o apoio de Bolsonaro, e Cleitinho Azevedo, que condiciona seu apoio ao desempenho nas pesquisas. O cenário é de incerteza e de intensa movimentação nos bastidores.

A vitória de Pacheco na Assembleia não apenas fortalece sua pré-candidatura ao governo, mas também sinaliza uma mudança de eixo no poder estadual. O Legislativo mineiro, ao rejeitar a privatização e optar pela federalização, assume protagonismo e impõe limites ao Executivo. O episódio antecipa o tom das disputas que marcarão o próximo ciclo eleitoral e reforça o papel da Assembleia como fiel da balança no xadrez político de Minas Gerais.

Luciano Meira

Editor do portal O Metropolitano
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