Anderson Torres depõe no STF e nega participação em plano golpista

Ex-ministro da Justiça Anderson Torres Foto: Reprodução Youtube
Luciano Meira

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres prestou depoimento nesta terça-feira (10) à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Réu ao lado de outros integrantes do chamado “núcleo crucial” da trama, Torres buscou se distanciar das acusações e negou envolvimento em qualquer articulação para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Minuta do golpe: “documento do Google”

Um dos pontos centrais do interrogatório foi a chamada “minuta do golpe”, documento encontrado em sua residência que previa a decretação de estado de defesa e a prisão de autoridades para reverter o resultado eleitoral. Torres afirmou que não elaborou o texto, classificando-o como uma “minuta do Google”, repleta de erros de português e sem qualquer valor jurídico. Segundo ele, o documento foi parar em sua casa por acaso, junto com outros papéis recebidos no Ministério da Justiça, e estava destinado ao descarte. O ex-ministro alegou não se lembrar de quem lhe enviou o texto e disse que nunca discutiu o conteúdo com Bolsonaro ou outros membros do governo.“Não é a minuta do golpe. É a minuta do Google, porque está no Google até hoje. […] Nunca tratei isso com o presidente e nem com ninguém”, afirmou Torres, ressaltando que recebia grande volume de documentos e minutas diariamente.

Urnas eletrônicas: “Nunca houve fraude”

Torres também foi questionado sobre sua participação em transmissões e reuniões ministeriais em que o sistema eleitoral brasileiro foi atacado. Ele reiterou que nunca questionou a lisura das urnas eletrônicas e que sempre informou ao então presidente Jair Bolsonaro que não havia indícios de fraude, baseando-se em relatórios da Polícia Federal. “Tecnicamente falando, não temos nada que aponte fraude nas urnas eletrônicas e nunca chegou notícia a mim sobre isso”, declarou.

Atuação da PRF e bloqueios no segundo turno

A Procuradoria-Geral da República aponta que Torres teria atuado para que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) dificultasse o acesso de eleitores em regiões favoráveis a Lula no segundo turno. O ex-ministro negou ter dado qualquer ordem nesse sentido e afirmou que boletins de inteligência produzidos por sua equipe tinham o objetivo de combater crimes eleitorais, sem direcionamento político.

8 de Janeiro e ausência nos EUA

Durante o depoimento, Torres também abordou sua ausência do país durante os ataques de 8 de janeiro de 2023, quando era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Ele afirmou que suas férias estavam programadas desde novembro de 2022 e lamentou a “falha grave” no cumprimento dos protocolos de segurança, negando qualquer conivência com os atos de vandalismo.

Acusações e próximos passos

Anderson Torres responde por crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa armada. O julgamento do “núcleo crucial” prossegue no STF, com depoimentos de outros ex-ministros e do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro previstos para esta semana.

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