Depoimento de Braga Netto no STF tem tensão, ironia e novas revelações sobre articulação golpista

Luciano Meira
O ex-ministro da Casa Civil e general da reserva Walter Braga Netto prestou depoimento nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. Preso desde dezembro do ano passado, Braga Netto é apontado como um dos principais articuladores da trama golpista e sua oitiva era considerada estratégica para o avanço das investigações.
Logo no início do depoimento, ao ser questionado por um dos ministros se já havia sido preso anteriormente, Braga Netto respondeu com ironia: “Estou preso”. O ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, reagiu de forma seca: “Eu sei, fui eu que decretei”, estabelecendo um clima de tensão que marcou toda a audiência.Durante o depoimento, Braga Netto foi questionado sobre reuniões realizadas no Palácio do Planalto após as eleições de 2022, nas quais teria participado de discussões sobre a possibilidade de contestação do resultado eleitoral e alternativas para impedir a posse do presidente eleito. O general negou ter participado de qualquer articulação golpista, afirmando que os encontros tinham caráter administrativo e que jamais endossou qualquer ação fora dos limites constitucionais.
Os investigadores também apresentaram mensagens trocadas entre Braga Netto e outros integrantes do alto escalão do governo anterior, nas quais se discutiam cenários de instabilidade institucional. O ex-ministro admitiu ter recebido comunicações de apoiadores insatisfeitos com o resultado das urnas, mas negou ter incentivado qualquer movimento ilegal.
Ao longo do interrogatório, Braga Netto reiterou sua confiança nas Forças Armadas e afirmou que jamais teria aceitado participar de uma ruptura democrática. No entanto, os ministros do STF insistiram em detalhes sobre sua atuação nos dias que antecederam os ataques de 8 de janeiro, especialmente sobre sua presença em reuniões com outros militares de alta patente.
O depoimento, foi marcado por respostas evasivas em alguns momentos e por tentativas do general de minimizar seu papel nos fatos investigados. A defesa de Braga Netto reforçou que ele tem colaborado com a Justiça e que espera que o processo transcorra com imparcialidade.
O caso segue sob análise do STF, que deve ouvir outros investigados nos próximos dias, em busca de esclarecer o grau de envolvimento de militares e ex-integrantes do governo Bolsonaro na tentativa de ruptura institucional.