Ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira depõe ao STF no processo da tentativa de golpe

Luciano Meira
O ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, prestou depoimento nesta terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, ocorreu na sala da Primeira Turma do STF, em Brasília, e integra a série de oitivas dos principais réus apontados como integrantes do chamado “núcleo crucial” da trama golpista.
Acusações e questionamentos
Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Paulo Sérgio teria colaborado com o ex-presidente Jair Bolsonaro na redação da chamada “minuta do golpe” e apresentado o documento aos comandantes das Forças Armadas, buscando apoio para uma possível ruptura institucional. Ele também é acusado de endossar críticas ao sistema de urnas eletrônicas, alimentando a desconfiança popular sobre o processo eleitoral.Durante o depoimento, Nogueira foi questionado sobre a existência da minuta e sobre supostas pressões para incluir menções a fraudes no relatório das Forças Armadas sobre as eleições. O ex-ministro negou ter conhecimento ou recebido qualquer documento relacionado a um plano golpista e afirmou que não houve reunião para despachar relatórios com Bolsonaro. “Não houve reunião, não levei o relatório para o presidente assinar. O presidente da República jamais me pressionou”, declarou.
Pedido de desculpas e postura no depoimento
Logo no início do depoimento, Paulo Sérgio Nogueira fez um pedido público de desculpas ao ministro Alexandre de Moraes e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por declarações feitas em uma reunião ministerial em dezembro de 2022, quando havia sugerido que o TSE agia de forma unilateral. O general classificou suas palavras como “mal colocadas” e afirmou que, se pudesse voltar atrás, teria feito um esclarecimento mais ameno. “Foram palavras mal colocadas. Dar a entender de chamar o TSE de inimigo, isso jamais, em tempo algum”, disse.
O ex-ministro também reiterou que não viu efetividade na comissão eleitoral das Forças Armadas para investigar fraudes e que não encontrou indícios de irregularidades nas urnas eletrônicas, apesar de ter sido pressionado a mencionar essa possibilidade no relatório final.
Próximos passos do processo
O depoimento de Paulo Sérgio Nogueira é parte da fase de instrução penal, na qual são colhidas novas provas. Após a oitiva dos réus, as defesas terão prazo para solicitar diligências complementares e apresentar alegações finais. Em seguida, o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, prepara seu voto, que será submetido ao julgamento da Primeira Turma do STF, presidida por Cristiano Zanin. O julgamento decidirá pela condenação ou absolvição dos envolvidos.
A oitiva de Nogueira ocorre após depoimentos de outros nomes centrais do caso, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem. O processo segue sob forte atenção pública e política, com transmissão ao vivo e cobertura jornalística em tempo real.
“Inicialmente, presidente, eu queria me desculpar publicamente por ter feito essas colocações naquele dia”, declarou Paulo Sérgio Nogueira ao ministro Alexandre de Moraes, referindo-se às críticas ao TSE e ao STF.