Ex-seminarista escreve sobre ‘Gayminários’, rave de padres e sexo com Bispo

Autor diz que o celibato é uma ‘farsa’ e uma ‘proteção’ para religiosos homossexuais não serem questionados porque não casam com mulheres

O ex-seminarista Brendo Firmino da Silva
Luciano Meira

Um livro-reportagem explosivo está dando o que falar da Igreja Católica no Brasil, ao expor a vasta e “pulsante vida gay” nos seminários e instituições religiosas. Intitulado “A Vida Secreta dos Padres Gays – Sexualidade e Poder no Coração da Igreja”, a obra do ex-seminarista Brendo Silva de 34 anos, revela um cenário onde a homossexualidade não seria a exceção, mas a “regra”.

Silva, que foi seminarista por mais de dez anos e saiu da igreja há uma década por não querer viver uma “vida dupla”, baseia seu livro em experiências pessoais chocantes, relatos de padres, ex-padres, seminaristas, pesquisadores e extensa bibliografia. Ele descreve a Igreja como um “sistema de mentira, de opressão, de fingimento” e a chama de “a grande rainha da hipocrisia”.Entre as revelações mais estarrecedoras, o autor detalha a existência de uma linguagem própria nos seminários, apelidados de “gayminários”, onde termos religiosos eram associados a significados sexuais, como “rebanho” para pênis e “fazer pastoral” para transar. Ele narra ter ido a uma boate gay pela primeira vez com um padre, que o deixou sozinho na pista para ir ao dark room.

As denúncias vão além, abordando o poder sexual de superiores hierárquicos, inclusive relações forçadas. Brendo Silva relata ter sido assediado sexualmente por um padre durante uma confissão, que pediu detalhes sobre sua masturbação e fantasias, chegando a revelar uma ereção. Essa experiência marcou profundamente sua vivência religiosa e foi ignorada por outros padres e superiores a quem ele comentou.

Outros segredos revelados no livro incluem um encontro sexual com um bispo em um motel de São Paulo, ocorrido entre 2016 e 2017, e a existência de uma “rave” de padres e seminaristas em um sítio no interior paulista, organizada via grupo secreto no Facebook, onde ocorriam beijos e “pegação”. Segundo Silva, alguns dos presentes são lideranças da Igreja que publicamente se posicionam contra a causa LGBTQIA+.

A obra também aponta a irresponsabilidade da igreja na formação dos religiosos, que desconsidera e destrói vidas e encobre casos de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo Aids. Para Silva, o celibato é uma “farsa” e uma “proteção” para a maioria dos religiosos, que seriam homossexuais e viveriam uma vida dupla, e não seriam questionados porque não casam com mulheres. Ele afirma ter convivido com poucos padres héteros, que também tinham vida dupla e namoradas, e que mulheres com filhos desses religiosos o procuraram após a publicação do livro.

Desde que a obra começou a ser impressa, antes mesmo do lançamento oficial, Brendo Silva tem sofrido ameaças, algumas explícitas como “Na inquisição você estaria na fogueira” ou “só basta enfiar uma peixeira no seu bucho para ver se vira homem”. Ele chegou a recorrer à polícia.

O autor buscou formalizar denúncias junto à Arquidiocese de São Paulo sobre o seminário no interior paulista onde diz ter vivido horrores. A Arquidiocese afirma que ele foi contatado em outubro de 2023 pela Comissão Arquidiocesana de Tutela, que apresentou os procedimentos para acolhimento da solicitação, prevendo encontros presenciais mediante agendamento prévio. No entanto, a Arquidiocese diz que Silva “expressou desconforto” com os trâmites e não deu continuidade, nem formalizou denúncia na comissão. Brendo Silva, por sua vez, relata que desistiu porque queriam os nomes e locais das ocorrências por e-mail, e ele preferia apresentar os detalhes pessoalmente, mas foi informado que os dados eram necessários para marcar a conversa.
Jeferson Batista, pesquisador da Unicamp, corrobora que há um “silêncio sobre a homossexualidade dentro do clero” e que a homofobia é “muito presente” entre sacerdotes, mesmo sendo comum encontrar padres gays. Ele aponta que a Igreja tem documentos, como o Catecismo, que definem atos homossexuais como “intrinsecamente desordenados”, e um documento de 2005 que barra a admissão em seminários de homens com “tendências homossexuais profundamente radicadas” ou que apoiam a “cultura gay”. Batista critica a “preocupação exacerbada com os gays”, que têm suas identidades reduzidas a sexo, questionando o tratamento dado a padres heterossexuais que mantêm relacionamentos e filhos.

Silva, que hoje se considera ateu mas é grato à religião por ajudá-lo a entender parte de sua identidade, não busca vingança. Seu livro, recheado de exemplos das “incoerências do clero católico”, questiona que tipo de pessoas a igreja entrega ao mundo: “Abusadoras? Maníacas? Traumatizadas?”. Segundo a obra, “todas elas”. Lançado em período de conclave para escolha de um novo papa, “A Vida Secreta dos Padres Gays” tem potencial para revoltar leitores e abalar a igreja.

A Vida Secreta dos Padres Gays – Sexualidade e Poder no Coração da Igreja
Preço R$ 59 (216 págs.) Autoria: Brendo Silva Editora: Matrix

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