Mauro Cid confirma tentativa de golpe em depoimento ao STF

Luciano Meira
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL-SP), e delator no processo que julga os réus do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado, prestou depoimento nesta segunda-feira (9) ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi o primeiro dos oito acusados a ser ouvido, após firmar acordo de delação premiada com a Polícia Federal.
Confirmação das acusações
Logo no início do depoimento, Cid confirmou a veracidade das acusações feitas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o grupo, afirmando que “presenciou grande parte dos fatos, mas não participou deles”. Ele também negou ter sido alvo de coação e ratificou todas as informações fornecidas em depoimentos anteriores.
Minuta do golpe e envolvimento de Bolsonaro
Cid detalhou que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu, leu e sugeriu alterações na chamada “minuta do golpe”, documento que previa medidas autoritárias para reverter o resultado das eleições de 2022. Segundo o depoente, Bolsonaro retirou a maioria dos nomes de autoridades da lista de prisões propostas, mantendo apenas o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE à época, como alvo do texto final.O documento, segundo Cid, previa também a criação de uma comissão eleitoral para conduzir novas eleições, baseadas na anulação do pleito de 2022. Cid relatou que o texto era robusto, com cerca de dez páginas de “considerandos” sobre supostas interferências do STF e do TSE no governo e nas eleições.
Pressão sobre relatório das urnas
O tenente-coronel afirmou ainda que Bolsonaro pressionou o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para que fosse produzido um relatório “duro” contra as urnas eletrônicas, mesmo sem evidências de fraude. O objetivo, segundo a PGR, era desacreditar o processo eleitoral e justificar uma possível intervenção militar.
Negativa de participação direta
Apesar de confirmar a existência dos planos e sua proximidade dos acontecimentos, Cid negou envolvimento direto na execução da tentativa de golpe. Ele afirmou que atuava como porta-voz de Bolsonaro e transmitia orientações a outros integrantes do grupo, mas que não tinha autonomia decisória.
Próximos passos do julgamento
As audiências com os demais réus do núcleo crucial seguem ao longo da semana na Primeira Turma do STF. Após os depoimentos, acusação e defesa terão prazo para solicitar diligências adicionais e apresentar alegações finais em até 15 dias.
Crimes imputados
A PGR atribui ao grupo crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
O depoimento de Mauro Cid é considerado peça-chave para o andamento do processo e para o esclarecimento do papel de cada acusado na trama golpista.