Ramagem depõe ao STF e nega participação em tentativa de golpe de Estado

Luciano Meira
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), prestou depoimento nesta segunda-feira (9) ao Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que apura a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Ramagem é réu na ação penal junto a outros sete integrantes do chamado “núcleo crucial” da trama, apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como articuladores de um plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Acusações e defesa
Segundo a denúncia da PGR, Ramagem teria usado a estrutura da Abin para monitorar opositores e produzir documentos que subsidiavam ataques ao sistema eleitoral, além de orientar o então presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre estratégias para deslegitimar o resultado das urnas. Entre os crimes atribuídos ao deputado estão organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.Durante o depoimento, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, Ramagem negou as acusações e afirmou que os arquivos encontrados em seus dispositivos, nos quais questionava o resultado das eleições e defendia a vitória de Bolsonaro, eram rascunhos pessoais e não foram enviados ao ex-presidente. Ele explicou que o estilo dos textos seguia uma estrutura de diálogo interno, usada para organizar reflexões, e que apenas um vídeo público de uma audiência no STF sobre testes de segurança nas urnas foi compartilhado com Bolsonaro.
“A forma de concatenar as ideias é sempre em forma de diálogo. Isso não significa que eu tenha conversado com ele ou encaminhado esse documento”, declarou Ramagem ao STF.
O deputado também negou ter atuado para disseminar desinformação sobre as urnas eletrônicas. Segundo ele, o vídeo compartilhado com Bolsonaro mostrava peritos criminais apresentando testes públicos de segurança das urnas e não foi editado ou tirado de contexto.
Contexto dos interrogatórios
O depoimento de Ramagem ocorre na sequência dos interrogatórios dos réus do “núcleo crucial” da trama golpista, que inclui nomes como o ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministros e militares de alta patente. As audiências, conduzidas por Alexandre de Moraes, acontecem sob forte esquema de segurança e são transmitidas pela TV Justiça.
Mais cedo, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também prestou depoimento, negando participação na tentativa de golpe e afirmando que Bolsonaro teve acesso à chamada “minuta do golpe”, mas teria feito alterações no documento.
Ramagem reafirma inocência
Ao final do depoimento, Ramagem reiterou sua inocência e disse estar à disposição para esclarecer todos os fatos. “Não há veracidade na imputação de crimes. Estamos aqui para demonstrar inocência”, afirmou o deputado.
O julgamento segue ao longo da semana, com a expectativa de novos depoimentos de outros réus apontados como peças-chave na suposta tentativa de subverter o resultado eleitoral de 2022.
Amanhã, terça-feira (10), o julgamento será retomado a partir das 09h, com transmissão ao vivo pela TV Justiça.