PF deflagra nova fase da Operação Overclean e mira políticos de oito partidos

Apreensão de dinheiro vivo, afastamento de prefeitos e quebra de sigilo de deputado federal marcam ofensiva contra esquema bilionário de desvio de emendas parlamentares na Bahia e em outros estados

Divulgação Polícia Federal
Luciano Meira

A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (27) a quarta fase da Operação Overclean, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa suspeita de fraudes em licitações, desvio de recursos públicos provenientes de emendas parlamentares, corrupção e lavagem de dinheiro. A ação, realizada em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Receita Federal, cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em Salvador, Camaçari, Boquira, Ibipitanga e Paratinga, além do afastamento cautelar de três servidores públicos. Todas as ordens foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).Entre os principais nomes investigados está o empresário José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”. Moura, que integra a Executiva Nacional do União Brasil, é apontado como peça central do esquema, liderando um grupo empresarial do setor de limpeza urbana com atuação em 17 estados e contratos milionários com prefeituras, especialmente na Bahia. Segundo a PF, Moura mantinha uma ampla rede de contatos e influência política, facilitando contratos e o desbloqueio de pagamentos em favor da organização criminosa. O empresário já havia sido preso em fases anteriores da operação e é suspeito de chefiar um esquema que teria desviado cerca de R$ 1,4 bilhão em recursos públicos.

Além do “Rei do Lixo”, a ofensiva desta sexta-feira teve como alvos:

Deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT-BA), que teve o sigilo telefônico quebrado por decisão do STF e é apontado como principal operador financeiro do esquema. Seu assessor, Marcelo Chaves Gomes, também foi afastado do cargo.

Prefeito de Ibipitanga, Humberto Raimundo Rodrigues de Oliveira (PT), alvo de busca e afastamento do cargo.

Prefeito de Boquira, Alan Machado França (PSB), também afastado e alvo de busca.

Ex-prefeito de Paratinga, Marcel José Carneiro de Carvalho (PT), alvo de mandado de busca e apreensão, com apreensão de grande quantia em dinheiro vivo em sua residência.

Empresários e empresas do setor de limpeza urbana, suspeitos de participação no esquema.

O esquema, segundo as investigações, consistia na liberação de emendas parlamentares para municípios baianos mediante o pagamento de propina, manipulação de licitações e superfaturamento de contratos, principalmente entre 2021 e 2024. Planilhas apreendidas pela PF identificaram mais de 100 codinomes de envolvidos, incluindo políticos, servidores públicos e empresários.

Apreensão, com apreensão de grande quantia em dinheiro vivo em sua residência do ex-prefeito de Paratinga, Marcel Carvalho (PT).

A Operação Overclean já identificou conexões do esquema com pelo menos oito partidos: União Brasil, MDB, PP, PSD, PSDB, PT, Republicanos e Solidariedade. Os crimes teriam ocorrido em cidades da Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins, entre 2018 e 2024. Entre os investigados de fases anteriores estão o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), citado como elo político do “Rei do Lixo” em Salvador, e o vice-prefeito de Lauro de Freitas, Vidigal Cafezeiro (Republicanos).

Secrertário da Prefeitura de BH já havia sido alvo da Operação Overclean

Na terceira fase da Operação Overclean, deflagrada em abril, a Polícia Federal cumpriu mandados em Belo Horizonte e afastou do cargo o então secretário de Educação da capital mineira, Bruno Barral. Na residência do servidor, foram apreendidos mais de R$ 120 mil em moedas estrangeiras e reais, além de joias e relógios de alto valor guardados em um cofre. Barral é apontado como ligado ao empresário “Rei do Lixo” e suspeito de envolvimento no esquema de fraudes em licitações e obras superfaturadas. No total, a operação já apreendeu mais de R$ 3,4 milhões em espécie, além de carros de luxo, barcos, aeronaves, imóveis e dezenas de relógios de alto padrão entre os investigados.

Os investigados devem responder por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos administrativos e lavagem de dinheiro. Até o momento, as defesas dos citados não se manifestaram.

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