Luciano Meira
A itaunense, Rita Paula Alves de Carvalho, vulgo Rita do Salão, moradora de Itaúna, que esteve em Brasília no dia 08 de janeiro agora vive como foragida na Argentina e em entrevista concedida ao site Bureau de Comunicação ela conta como foi sua fuga de Itaúna para Buenos Aires.
Rita conta que viajou de Itaúna para Brasília onde ela e os demais ocupantes do ônibus pretendiam se juntar aos golpistas acampados na frente do QG do Exército.
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“Não acampamos e nunca fui presa. Chegamos no dia 8 de janeiro pela manhã, por volta das 10h30 e o Exército já não estava deixando ônibus entrar no QG de Brasília. Chegamos num ônibus cheio, vindo de Itaúna, que estacionou longe do QG. Portanto, fomos até o QG sem levar as nossas coisas e de lá descemos para a Praça dos Três Poderes. Com aquela confusão toda decidimos ir embora, voltar para casa, mas tivemos que esperar metade das pessoas que viajaram conosco serem liberadas pela polícia, o que ocorreu somente à 1 hora da madrugada de segunda-feira. Até esse horário, o nosso ônibus ficou escondido numa boca de fumo e tivemos que pegar Uber para chegar nesse local e esperar todos chegarem”, disse a foragida.
Rita do Salão diz que após o dia 08 de janeiro sua vida nunca mais foi a mesma, e que ela acreditava que não teria problemas por entender não haver cometido nenhum crime, conforme ela mesma disse em seu depoimento ao delegado da Polícia Federal em Divinópolis, confirmando a sua presença na Praça dos Três Poderes no 08 de janeiro.
“Tiraram um print de um vídeo que alguém postou e fizeram um dossiê me denunciando, como eu poderia dizer que eu não estive lá, que aquela pessoa da foto na rampa não era eu, sendo que a imagem era a minha?”
Rita igual muitos acusados nega haver participado de atos de violência do 08 de janeiro, até que em 15 de julho, mais de um ano e seis meses após os atos golpistas teve seus bens bloqueados pela Justiça, e em 07 de agosto, foi notificada para apresentar sua defesa em até 15 dias.
“Estou no sufoco desde 15 de julho, quando minhas contas foram bloqueadas. E depois do dia 07 de agosto, quando a oficial da Justiça Federal esteve na minha casa, para entregar a intimação, eu não tive mais paz. Por isso resolvi deixar tudo e vir para a Argentina, pelo menos para acordar sem medo de ser presa”, disse.
Um dia antes de vencer este prazo, dia 21 de setembro Rita desembarcou na rodoviária de Buenos Aires na Argentina, após ter viajado de Belo Horizonte para São Paulo, onde embarcou para o país vizinho. Na fuga Rita abandonou sua campanha ao cargo de vereadora em Itaúna, segundo suas palavras “não sei o que vou fazer, mas sei o que eu quero: quero ser livre”.
As contas de Rita têm um bloqueio até o valor de R$ 26,633 milhões, determinado pelo STF.
“Tudo que eu tenho no Brasil está bloqueado. Tentei vender o meu carro para poder vir para cá, mas não consegui porque existe o bloqueio do STF. Perdi o meu trabalho, o meu salão, que era a minha única fonte de renda”, conta.
A itaunense disse ainda que conheceu outros foragidos na Argentina que a acolheram. Desde então, a rotina é sair todos os dias em busca de trabalho.
“Surgiu um emprego num supermercado, que paga menos do que é necessário para viver aqui, e me pediram para fazer um currículo. Eu não sei fazer currículo! Trabalho há 30 anos fazendo cabelo e é o que eu posso oferecer de melhor. Como colocar isso num currículo para trabalhar”?
Atualmente 223 golpistas já foram condenados pelos crimes mais graves (contra quem participou da depredação do patrimônio) e três absolvições nesses casos. E mais 42 condenações por crimes mais leves, dos quais foram acusadas pessoas que estavam em frente aos quartéis incitando um golpe de Estado, além de uma absolvição nesses casos.
Além disso, foram firmados 476 Acordos de Não Persecução Penal com a Procuradoria Geral da República. Além de confessar os crimes, os réus se comprometeram a prestar serviços à comunidade ou a entidades públicas, a não cometer delitos semelhantes nem serem processados por outros crimes ou contravenções penais, além do pagamento de multa. Eles também estão proibidos de participar de redes sociais abertas até o cumprimento total das condições estabelecidas no acordo, e terão que participar de um curso sobre Democracia, Estado de Direito e Golpe de Estado.
No caso dos crimes mais graves, as penas foram fixadas conforme a atuação de cada réu e variam de 14 a 17 anos de prisão. Para os crimes mais leves, as penas foram fixadas em um ano de detenção, substituídas por restrição de direitos, além de multa. Mesmo com a substituição da pena de detenção, os envolvidos que se recusaram a fazer acordos deixarão de ser réus primários quando se encerrar a possibilidade de recursos e a decisão se tornar definitiva (trânsito em julgado).
A fuga para o país vizinho pode ter sido em vão, brasileiros foragidos da Justiça estão sendo presos na Argentina, os mandados de prisão foram emitidos pelo juiz Daniel Rafecas a pedido do Superior Tribunal de Justiça. Dois brasileiros já foram presos, segundo a polícia da província de Buenos Aires.
A Justiça da Argentina mandou prender 61 brasileiros que estão no país e estão foragidos no Brasil após terem sido condenados por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
O governo da Argentina havia enviado em junho ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil uma lista de brasileiros que haviam pedido refúgio no país vizinho após serem condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
Em outubro, o ministro Alexandre de Moraes, responsável por supervisionar o inquérito, pediu a extradição dos brasileiros foragidos na Argentina. Como os foragidos tinham pedido refúgio no país, existia a possibilidade que a extradição não fosse cumprida.
Segundo a Comissão Nacional para Refugiados da Argentina, órgão responsável por autorizar asilos e refúgios para migrantes, mais de 180 brasileiros pediram refúgio no país desde janeiro de 2024.
No entanto, uma mudança na legislação da Argentina há um mês determinou que o refúgio não pode ser concedido a pessoas condenadas por crimes graves em seu país de origem. Na lista de crimes graves estão “atos terroristas”, “violação grave de direitos humanos” e ações que possam comprometer “a paz e a segurança internacional”.