Uma chapa de vereadores sempre enfrenta desafios significativos na disputa eleitoral, este ano não será diferente.
Luciano Meira – Itaguara
Na eleição municipal de 2020, o quociente eleitoral em Itaguara foi de 830 votos, para este ano a estimativa é que o quociente fique em torno de 950 votos levando em consideração o crescimento do eleitorado e a média de votos válidos em eleições anteriores. Apesar do aumento do número de partidos e de candidatos concorrendo, isto não altera o cálculo do quociente sendo na verdade um complicador, já que haverá uma maior pulverização dos votos, que serão distribuídos entre os 103 candidatos.
As dificuldades podem ser divididas em vários aspectos:
1. Quociente eleitoral mais difícil de alcançar
O quociente eleitoral é a divisão dos votos válidos pelo número de cadeiras em disputa em uma eleição. Para que uma chapa eleja alguém, é preciso atingir ou superar esse quociente. Quando uma chapa está incompleta, ou seja, com menos candidatos do que o número máximo permitido, ela perde a chance de agregar mais votos. Em chapas completas, cada candidato pode trazer votos que ajudam a atingir esse quociente, aumentando as chances de eleger mais candidatos.
Sem um número adequado de candidatos, fica mais difícil atingir essa meta, pois o volume de votos pode ficar muito abaixo do necessário. Caso as previsões se confirmem em Itaguara, na média cada candidato de cada chapa completa – 10 candidatos – deverá ter pelo menos 95 votos cada, aumentando este número para as chapas que tenham menos de dez candidatos, como por exemplo o PSD ou o SOLIDARIEDADE que concorrem com 7 e 6 candidatos respectivamente, levando a média do PSD para 136 votos e a do SOLIDARIEDADE para 159 votos para cada um de seus candidatos para terem o direito de ocupar pelo menos uma cadeira na Câmara Municipal.
2. Ausência de um puxador de votos
O “puxador de votos” ou “cabeça de chapa”, é aquele candidato com grande apelo eleitoral, geralmente carismático, conhecido ou com forte base de apoio. Esse tipo de candidato consegue atrair muitos votos, que acabam sendo distribuídos para a chapa como um todo, o que pode ajudar a eleger outros vereadores do grupo, mesmo que esses outros não tenham recebido votos expressivos.
Se a chapa não tem um puxador de votos, ela precisa distribuir os votos entre seus candidatos de maneira mais homogênea, o que é uma tarefa difícil. Isso significa que cada candidato individual precisa ser suficientemente forte para garantir uma quantidade significativa de votos, o que muitas vezes é um desafio, especialmente em contextos eleitorais onde há uma competição acirrada com outras chapas que têm candidatos mais conhecidos ou com maior apelo popular.
Em 2020 esta teoria mais uma vez se confirmou, o PSDB fez no total 2.033 votos que garantiu ao partido três cadeiras no Legislativo, vejam o resultado:
Partido/Votos/Cadeiras
PSDB/2033/3
PL/1128/2
PSD/1088/1
DEM/1066/1
AVANTE/1046/1
MDB/848/1
PT/260/0
Candidatos:
Marcelinho do Ônibus PSDB 467 – Eleito
Luiz Henrique Almeida MDB 461 – Eleito
Zé Hilton PL 414 – Eleito
Carona dos Costas PSD 369 – Eleito
Carlão do Joãozinho Mendonça DEM 348 – Eleito
Bichinho PSDB 223 – Eleito
Ailton Pipoca DEM 217 – Não Eleito
Vandeir do Onibus PL 203 – Eleito
Elton do Toninho Delegado PSD 203 – Não Eleito
Zélia Filha do Cadieca DEM 196 – Não Eleito
Baiano da Saúde AVANTE 166 – Eleito
Cassinho da Dora PSDB 158 – Eleito
O PSDB teve direito a uma terceira cadeira, mesmo sendo seu candidato, Cassinho da Dora, menos votado que outros três e o AVANTE ocupou uma cadeira com seu candidato Baiano da Saúde, também com menos votos que os mesmos outros três candidatos, ficando demonstrado com muita clareza que um puxador de votos, como no caso do PSDB ou uma média bem equilibrada como no caso do AVANTE oferece aos candidatos maiores chances de obtenção de um resultado eleitoral mais satisfatório.
3. Falta de representatividade e visibilidade
Uma chapa incompleta pode não ter candidatos que representem todos os segmentos da sociedade ou os diferentes bairros e regiões do município. A diversidade de candidatos geralmente amplia a base de eleitores, permitindo que a chapa alcance diferentes públicos. Sem essa diversidade, a chapa pode acabar concentrando seus votos em um perfil específico, o que diminui o potencial de alcançar uma ampla fatia do eleitorado.
Além disso, a ausência de um nome forte (puxador de votos) pode prejudicar a visibilidade da chapa. O eleitor médio, muitas vezes, escolhe um candidato por sua presença na mídia, redes sociais ou por sua liderança comunitária. Sem um rosto conhecido, a chapa pode não despertar tanto interesse do público, o que reduz ainda mais suas chances de sucesso.
4. Falta de sinergia entre os candidatos
Em uma chapa completa e com um puxador de votos, há uma tendência maior de os candidatos trabalharem de forma sinérgica para atrair votos e apoiar a candidatura uns dos outros. Sem esse líder ou uma chapa coesa, pode haver menos colaboração e menos incentivo para os candidatos trabalharem juntos. Cada candidato, por exemplo, pode acabar se concentrando exclusivamente em sua própria campanha, sem contribuir para a estratégia coletiva, o que pode comprometer a votação geral da chapa.
5. Dificuldades financeiras e de mobilização
A ausência de um nome forte ou de uma chapa completa também pode resultar em menos recursos financeiros e apoio logístico. Candidatos com maior potencial eleitoral geralmente atraem mais doações e apoios, o que fortalece a campanha da chapa como um todo. Quando a chapa é incompleta ou sem figuras de destaque, ela pode não conseguir mobilizar tantos recursos, o que compromete a divulgação da campanha, a realização de eventos e a visibilidade nas ruas e redes sociais.
Consequências
Essas dificuldades combinadas podem resultar em uma chapa com um desempenho eleitoral aquém do esperado. Em muitos casos, a chapa pode não conseguir atingir o quociente eleitoral, ficando de fora da distribuição de cadeiras ou elegendo um número reduzido de representantes. Além disso, se uma chapa não consegue fazer uma campanha competitiva, ela também pode prejudicar a longo prazo a sua capacidade de formar base política sólida, o que afeta futuras eleições.
Em resumo, uma chapa de vereadores incompleta e sem puxador de votos enfrenta uma batalha desigual para alcançar o quociente eleitoral, sendo necessário um esforço extra em organização, comunicação e estratégia para compensar essas limitações.