Oficial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais é casada com major da PM

Luciano Meira – Agências
A oficial de justiça Maria Sueli Sobrinho, de 48 anos, estava trabalhando quando foi agredida com uma cabeçada e um soco no rosto. Ela relatou que, enquanto tentava entregar uma intimação a um homem de 27 anos, o policial militar Daniel Wanderson do Nascimento, de 49 anos a atacou.O crime ocorreu no bairro Novo Horizonte, em Ibirité, na Grande BH. O jovem que foi intimado é enteado do suspeito.
De acordo com o registro da vítima na Polícia Militar, por volta de 17h40 ela procurou pela casa do intimado, mas não encontrou a numeração. Ela perguntou aos vizinhos se alguém conhecia o homem quando foi informada do endereço onde ele mora.Ao se aproximar da residência, viu um carro parado com três ocupantes: uma mulher no banco do motorista, o suspeito no banco passageiro e o intimado no banco de trás. Ao perguntar se conheciam o intimado, o policial se apresentou dizendo que era ele, e pegou os papéis com a oficial de justiça.
Logo em seguida, ele passou o documento para o verdadeiro intimado. A vítima disse que alertou e o orientou a não se apresentar como outra pessoa, porque poderia gerar problemas futuros.
Neste momento, segundo o registro policial com os relatos da vítima, o militar saiu do veículo descontrolado e partiu para cima de Sueli. Enquanto brigava por ter sido orientado, ele duvidou que a mulher era, de fato, uma oficial de justiça.
Ela foi até o carro que usa a trabalho e pegou sua documentação para comprovar sua função no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no entanto, o policial se irritou mais.
Foi quando Sueli ameaçou acionar a polícia por ter sido intimidada e desacatada, e disse que chamaria uma viatura. Então o militar disse: ‘aqui a sua viatura’ e deu uma cabeçada no nariz da oficial de justiça, que pediu para ele parar, mas o sargento deu um soco na boca da oficial e falou que ‘isso não daria nada para ele, só lesão corporal’, mas quando o militar viu que a vítima estava ligando para a polícia ele fugiu.
Os policiais que atenderam a ocorrência encontraram Sueli na rua com o rosto ensanguentado. Ao entrarem na casa do suspeito, localizaram seu enteado, que seria intimado pela oficial, com uma pá em uma das mãos para intimidar a ação policial.
Além dele, estavam outras duas mulheres na casa, que se recusaram a identificar o militar agressor. Uma das mulheres ligou para o suspeito e colocou a ligação no viva-voz, quando o suspeito forneceu um nome falso e ameaçou o sargento que atendeu a vítima. ‘Você é um terceirinho, eu sou antigão. Quero saber quem é o major que bateu no peito e falou que ia me pegar’, disse o suspeito aos militares que atendiam a ocorrência.
Em seguida o militar apareceu no local, ainda muito exaltado, recusando se identificar e mostrar que também era policial militar. Durante o registro da PM o suspeito foi identificado com a patente de 1º sargento. Um dos policiais que algemou o suspeito também foi agredido com um soco e um chute nos testículos.
O suspeito relatou, ainda, que o esposo da vítima ocupa o cargo de major na Polícia Militar, e que se sentiu ameaçado por ele. No registro policial, ele negou ter sido agressivo com os militares que atenderam a ocorrência.
Após ser detido, em seu depoimento o sargento confirmou que esfregou seus documentos de policial no rosto de Sueli, e não acreditou que ela seria oficial de justiça por trabalhar em um sábado.
O policial que atendeu a ocorrência relatou ter sido agredido pelo sargento que mesmo algemado voltou a ameaçá-lo. ‘Você é um terceiro, e recruta. Eu sou antigão e mais homem que você. Tire essas algemas que vou te arrebentar, e não vou me ver com você na Justiça Militar, vou ver você fora’.
Após ser preso em flagrante a Justiça Militar converteu de flagrante para preventiva a prisão do sargento Daniel Wanderson do Nascimento.
A audiência de custódia foi realizada no final da noite deste domingo (9). A decisão argumenta que a conversão foi necessária como forma de garantir a ordem pública e manter a hierarquia e a disciplina militares.
O juiz considerou os crimes cometidos como graves (agressão, resistência, ameaças e desacato).
A conversão de prisão em flagrante para prisão preventiva significa manter o acusado preso por tempo indeterminado, como forma de garantir a ordem pública e a continuidade das investigações, evitando que o suspeito cometa novos crimes ou interfira no processo judicial.
O sargento está preso na unidade prisional militar de Contagem à disposição da Justiça.