STF acelera julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe: condenação pode sair até outubro
Aliados, mas nem tanto, aproveitam oportunidade para lançar pré-candidaturas

Luciano Meira
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem surpreendido pela velocidade com que conduz o processo da tentativa de golpe de Estado, cujo principal acusado é o ex-presidente Jair Bolsonaro. A expectativa inicial era de que o julgamento se arrastasse até o fim de 2025 ou mesmo 2026, mas a Primeira Turma do STF, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, imprimiu ritmo acelerado aos trabalhos. Agora, advogados e réus já projetam que a condenação pode ocorrer entre agosto e setembro, com a decisão final prevista para outubro, após a análise e provável rejeição dos recursos da defesa por Moraes.A fase de interrogatórios dos réus do chamado “núcleo crucial” foi concluída em apenas dois dias, menos da metade do tempo inicialmente reservado para essa etapa. Todos os acusados, incluindo Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier Santos e Paulo Sérgio Nogueira, tiveram espaço para se manifestar, sem limite de tempo para respostas ou perguntas. O ministro Alexandre de Moraes também permitiu a participação de outros ministros da Primeira Turma, reforçando a transparência do processo.
O STF tem sido firme ao negar pedidos considerados protelatórios das defesas, como o acesso irrestrito a todas as provas e a suspensão da instrução processual. Moraes reiterou que os advogados dos réus já tiveram acesso aos elementos necessários para a ampla defesa e que o processo seguirá sem atrasos desnecessários.
A preocupação da Corte é clara: evitar que o julgamento contamine o debate eleitoral de 2026. Ministros do STF ouvidos pela imprensa avaliam que o caso está pronto para um desfecho e que a condenação de Bolsonaro pode enfraquecer ainda mais seu discurso de candidatura, já que ele está inelegível desde decisões anteriores do Tribunal Superior Eleitoral.
Pré-candidatos da direita se movimentam diante do vácuo deixado por Bolsonaro
Enquanto o futuro político de Bolsonaro se complica, governadores de direita intensificam articulações para ocupar o espaço deixado pelo ex-presidente. Entre os principais nomes que já se apresentam como pré-candidatos à Presidência em 2026 estão Romeu Zema (Novo, Minas Gerais), Ronaldo Caiado (União Brasil, Goiás), Ratinho Junior (PSD, Paraná) e Eduardo Leite (PSD, Rio Grande do Sul).
Os agora, nem tão aliados de Bolsonaro, têm buscado demonstrar unidade estratégica, participando juntos de eventos do agronegócio — setor fortemente ligado ao eleitorado bolsonarista — e pregando a união da centro-direita contra o presidente Lula (PT). Em discursos recentes, Caiado, Zema e Ratinho Junior afirmaram que, caso um deles chegue ao segundo turno, contará com o apoio dos demais, sinalizando um pacto de não-agressão e de convergência no segundo turno.
“Vocês podem ter certeza absoluta, cravarem e apostarem de que em 2026 a centro-direita chegará a subir no Planalto e chegará ao comando dessa Nação”, disse Caiado, reforçando o discurso de união.
Zema, que recentemente intensificou sua pré-campanha com viagens ao exterior e promessas de indulto a Bolsonaro, adota cautela ao falar do ex-presidente, mas já se coloca como alternativa viável no campo conservador. Ratinho Junior e Caiado, por sua vez, também já lançaram suas pré-candidaturas e trabalham para nacionalizar seus nomes, buscando apoio entre partidos e lideranças do centro e da direita.
Outro nome frequentemente citado como possível candidato de consenso é Tarcísio de Freitas (Republicanos, São Paulo), visto como alguém capaz de agregar o eleitorado bolsonarista sem o peso do radicalismo associado a Bolsonaro. No entanto, Tarcísio ainda não oficializou sua pré-candidatura e mantém cautela diante do cenário judicial do ex-presidente.
A movimentação dos governadores evidencia uma disputa interna pelo espólio político de Bolsonaro, com ensaios de alianças e demonstrações públicas de coesão, mas também com a manutenção de candidaturas separadas no primeiro turno. O objetivo é garantir que, independentemente do desfecho do julgamento de Bolsonaro, a direita chegue forte e unida ao segundo turno das eleições de 2026.
A celeridade inédita do STF no julgamento da tentativa de golpe e a reorganização da direita em torno de novos nomes marcam o cenário político brasileiro neste momento decisivo, com impactos diretos sobre a sucessão presidencial e o futuro do campo conservador no país.